Esse aí dispensa apresentações… se nunca ouviu falar deste vovozinho de 75 anos, pule este post.
Aproveito a ocasião “história da escalada/bouldering” para lembrar do interessante sistema de graduação que John Gill propôs nos primórdios (adotado na década passada por Klem Loskot), uma idéia que faz mais sentido para mim do que os sistemas lineares (cheios de inconsistências, polêmicas ou discordâncias) existentes hj em dia e que me encheram o saco este ano, tanto que troquei o venenoso “8a.nu” por um simples caderninho de recordações.
“B1 would denote the highest level of difficulty in traditional roped-climbing, B2 would be a broad category of more difficult or “bouldering level” problems, and B3 would be an objective category signifying climbs that were unrepeated, though attempted. When a B3 was repeated it would drop to a B2 or perhaps even a B1 level.”
“My idea was to promote this new sport by challenging climbers to improve their technical skills to the point they were capable of ‘bouldering level’ difficulty, but discourage the degeneration of bouldering itself into a numbers-chase. Unfortunately, my system was a bit too abstract and went against the grain of normal competitive structures, where a simple open progression of numbers or letters signifies progress.”
Klem Loskot diz que B1 seria algo no limite, porém passível de controlada repetição; B2 limite máximo e somente repetido em perfeitas condições; B3 são os problemas que passam a sensação de nunca mais conseguir repetí-los. Fácil de medir, não? Sei que realizei no máximo 1 ou 2 boulders B2 este ano. E pelo menos 1 que tentei bastante é claramente um B3.
Este sistema só tinha um “problema”: era à prova de competitividade, sendo assim não colou. Afinal, sem números lineares e comparativos, a mídia deturpada de hj em dia não teria como agitar notícias sobre quem é o melhor ou o primeiro ou o mais difícil do mundo. Pois é, John, infelizmente vivemos hoje o numbers chase que vc não queria para a modalidade que vc inventou.
Teria esse sistema vigorado, a escalada em boulder seria um instrumento de evolução mais sincero e uma prática mais pura ou menos ofuscada pelo ego, que te faz querer contar seus feitos de maior número e te emputece quando uma linha supostamente fácil te derruba. Provavelmente eu não iria me estressar tanto para tentar um boulder em flash. Provavelmente eu não iria fazer uma lista (‘tick list’) baseada em números antes de partir para uma viagem. Provavelmente eu prestaria mais atenção nas centenas de outras coisas importantes além de somente a obsessão pela última agarra do boulder ou o desejo de botar mais uma linha no bolso. Numerar a dificuldade de uma escalada com “1, 2, 3, 4, 5…” é tão relativo que basear sua progressão pessoal nisto pode ser um engano, às vezes um “engano consciente” articulado pelo ego. E como a escalada é mtas vezes motivada por evolução pessoal, confiá-la neste sistema é uma armadilha que foge bastante dos propósitos mais verdadeiros pelos quais eu escalo. Neste sentido eu recomendo uma leitura deste post do italiano Michele Caminati.
Bottom line: acho perfeita a frase “cada um inventa os seus motivos para escalar” (lapide bem esses motivos! :-)