A poucas semanas atrás, mais precisamente no dia 5 de setembro, faleceu no RJ o jornalista e escritor brasileiro Fausto Wolff.
Eu não tenho a menor competência pra escrever sobre esse cara. Indico um artigo “póstumo” que o descreve melhor no seu próprio site: http://www.olobo.net/index.php?pg=colunistas&id=1008
Mas aqui eu gostaria de manifestar a minha tristeza.
O velho Lobo apareceu pra mim através do seu livro de contos “O Homem E Seu Algoz”, que eu li a primeira vez uns 6 anos atrás. Pra mim, não pude ter melhor apresentação, pois esse livro é do caralho. Fazia tempo que eu não lia contos tão prazeirosos e surpreendentes! Depois foi “À Mão Esquerda”, romance chapante contado a partir de diversos personagens e períodos diferentes. Aí fui atrás dos seus poemas, e ao me mudar para o RJ, o escritor me fez escolher o Jornal do Brasil (JB) como meu predileto. Sua coluna diária no ‘Caderno B’ JAMAIS será substituída. Ele botava o Jabor no chinelo. Meu sonho sempre foi encontrar o Fausto Wolff num botequim e tomar um porre com ele, rindo sobre a vida. Aliás este post vai no tópico da baixa gastronomia por isso: assim como diversos escritores “seniors” por aí afora, Fausto Wolff era um bom bebedor. Diz a lenda que ele já ganhou até maratona de chope aqui no Rio, onde os competidores iam de bar em bar e uns fiscais da Brahma anotavam o que bebiam, e o Fausto sozinho tomou mais de 30. Enfim, finalizarei com um trecho aleatório de sua última grande obra “A Milésima Segunda Noite”, que contém nada menos do que 1002 pequenas histórias em mais de 740 páginas:
“Onofrinho Peres Salmão era um playboy de seus quase 60 anos, muito popular nas crônicas sociais. Uma noite, ao voltar da serra carioca, deparou com um acidente na Avenida Brasil e foi obrigado a virar à esquerda. Distraído, depois de dez minutos, se deu conta de que estava perdido numa rua da Zona Norte sem iluminação. Neste momento, estourou um pneu e ele teve de estacionar no meio-fio. Ao sair do carro para ver o estrago, foi rodeado por três crioulos musculosos e, nas mãos de um deles, um enorme revólver.
– Passa tudo, doutor!
Onofrinho sentiu o suor escorrendo por entre as pernas. Já se preparava para entregar tudo quando viu um negrão ainda mais alto aproximar-se:
– O que é que está havendo aí?
– Estamos trabalhando, pai.
– Calma, que este aí é o dr. Onofrinho. Conheço ele lá do Jockey.
– Que bom que o senhor apareceu. Estão vendo, rapazes? O pai de vocês me conhece.
– Servi o dr. Onofre por quase dez anos na social. Ia buscar cafezinho, programas, fazia as apostas para ele. Nunca me deu um tostão e nem um ‘muito obrigado’. Um dia não consegui fazer a aposta a tempo, ele mandou me despedir.
– O senhor está me confundindo…
– Você é um filho-da-puta, está fora do seu território, não gosto do seu jeito viado de falar! Você só sabe como a gente vive pelos jornais. Acha que o Rio inteiro é o Leblon, seu puto? Eu e meus filhos tivemos de formar uma quadrilha por tua causa! Matem esse viado, desovem ele no Chinfro do Urubu e repassem o carro pro João BomBom.
Quando encontraram e identificaram o corpo de Onofrinho, a governadora prometeu tomar providências, choveram cartas nos jornais, mas nada se fez para melhorar a vida dos pobres. “