Gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência butequeira adquirida aqui no RJ, cidade berço do botequim tradicional. Já faz tempo que eu desejo me expressar em homenagem a esse “templo” do bem viver, mas para isto eu pretendo me dedicar com mais carinho em uma futura postagem, como se escrevesse uma carta a um melhor amigo. Já nesta ocasião falarei sobre um item famoso, que frequentemente pesa no estômago de butequeiros de carteirinha: o caldinho de feijão. Espero encorajar aos que nunca experimentaram, e também informar aos experientes sobre minhas preferências pessoais. Afinal eu devo tomar isso mais do que água mineral…
O caldinho de feijão não tem segredo, é simples de fazer em casa mas é quase uma heresia não consumí-lo em um ambiente apropriado. Encostar no balcão de um pé sujo, pedir um chopp, uma cachaça e um caldinho, é o meu “no. 1”, é a combinação que não vivo sem e tenho certeza que o dia que eu morrer e me enterrarem, é só regar um pouco na altura da minha barriga que lá nascerá um pezinho de feijão. Devo a ele toda a reposição proteica que meu corpo precisa após os treinos de escalada. Sem falar da quentura que ele me traz em dias de inverno, mas confesso que não o dispenso nem nos dias de verão insuportável aqui do Rio. Trata-se de um “peso-pesado”, mas o fato dele ser batido, facilita (ou dificulta menos) o processo digestivo devido a ausência das cascas. Não é a toa que tem uma papinha de bebês sabor feijão com beterraba que eu amo! Enfim, sou suspeito pra falar… mas não é por isso que curto qualquer caldinho por aí, pelo contrário, fico cada vez mais crítico conforme a experiência aumenta, e desta vez os convidarei para o caldinho de feijão de corda do Adega da Velha.
Adega da Velha, Botafogo – RJ
Particularmente, considero o Adega a melhor comida nordestina do RJ, mas disto falarei futuramente. Foi lá que experimentei pela primeira vez um caldinho feito com feijão de corda, grão que a grosso modo acompanha o “arroz-feijão” (baião de dois) dos nordestinos. É bem graúdo, maravilhoso. Ali no Adega o seu caldinho vem escoltado por uma farta “mini” porção de carne seca com nacos sequinhos e crocantes (mais manteiga de garrafa quentinha para “lubrificação/aromatização”), e torresmos sempre de boa qualidade (não aqueles que parecem sola de sapato dura). Como complemento, cebolinha picada e tirinhas de queijo coalho cru, que podem ser mergulhadas no copo americano para derreterem um pouco, junto ao caldo. Tudo isso pode beirar a demasia, portanto há a versão “simples”, que é a vista na foto, somente com o caldinho em si, que normalmente vem em consistência não muito grossa, o que pode desagradar a alguns apreciadores. Eu como cachaceiro “pos-graduado” não deixo de acompanhá-lo com uma boa cana, e felizmente no Adega temos opções de qualidade. Aliás este fator conta muito na avaliação geral, pois para mim um caldinho sem cachaça boa é como macarrão sem molho, um casamento desfeito. A harmonia que se dá quando revezamos goladas de cachaça com a quentura de um caldinho regado a azeite e gotinhas de pimenta, traz um resultado bombástico, pois aproxima os sensores gustativos e olfativos, ou seja, une nariz com boca e por um raro instante sentimos um furacão de sabores se apossar de nossos sentidos, muito foda isso!!
Fica aí a minha primeira recomendação.
Adega da Velha – Rua Paulo Barreto, 25 – Botafogo